Jogos Vorazes
A história se passa em Panen, uma nação pós-apocalipse formada pela poderosa Capital, que governa, e por 12 distritos, nos quais todos os anos são recrutados através de sorteio casais de jovens, de 12 a 18 anos, para participarem de um torneio onde apenas o jogador mais habilidoso sobreviverá. Os escolhidos (denominados tributos) representam a força de sua localidade perante as demais e são protagonistas de uma espécie de No Limite, onde as ações dos participantes são monitoradas 24 horas por dia. Sacrificando-se por sua irmã, selecionada no sorteio, Katniss Everdeen (Jennifer Lawrence) e um antigo conhecido, Peeta Mellark (Josh Hutcherson), são os representantes do Distrito 12 e, acompanhados da hostess da competição — Effie Trinket (Elizabeth Banks, irreconhecível), são levados para a nave mãe, na qual se concentra toda a produção, e se juntam aos outros 22 competidores. Como parte dos preparativos para a estreia, todos são incumbidos de conseguir patrocínio (suprimentos, remédios e armas), sempre assessorados por um mentor, no caso de Katniss e Peeta este papel cabe a Haymitch Abernathy (Woody Harrelson) que zela pelas imagens de seus pupilos, tentando transformá-los em figuras carismáticas a ponto de ganharem a torcida dos espectadores e não serem eliminados, literalmente, do jogo. Manipulando todas as peças do xadrez, está Seneca Crane (Wes Bentley), o diretor do programa, que pressionado a manter os bons índices de audiência, apela para artifícios tão comuns ao que já estamos acostumados a ver neste tipo de atração que domina a TV mundial. Se o ritmo cai, investe-se na ação desenfreada entregando todo o protagonismo à figura que mais demonstra potencial e providencia um romance instantâneo para que o público não perca o interesse. Em tempo, para completar a receita — coloque como âncora uma figura propositalmente over para dominar as atenções, o Caesar Flickerman de Stanley Tucci é — digamos — um Pedro Bial afetado.
Apostando em uma linguagem provinda dos games somada ao cada vez mais gritante interesse do público pela vida alheia, o caráter premonitório visto em O Show de Truman, em Jogos Vorazes o cineasta Gary Ross, responsável pelos ótimos Pleasantville e Seabiscuit — tem inúmeros trunfos a seu favor, que coloca sua produção a frente da maior parte do que é feito atualmente para a geração teen, inclusive da trilogia de Bela e Cia. A propósito, o texto da escritora Suzanne Collins é mais atual e possui personagens melhor delineados pelo enredo do que o de Stephenie Meyer. Enquanto, por exemplo, a protagonista dos livros de Meyer se mantém atuante apenas por sua relação amorosa e aflitiva com um vampiro, Katniss Everdeen toma a frente da ação, apresentando uma independência emocional de se admirar. Exímia no arco e flecha, a personagem de Lawrence é intensamente proativa – busca por seu próprio alimento, dá conselhos a mãe e salva o mocinho da morte e não foi a toa que se tornou o centro do fascínio do reality show, que a vende como destemida, deixando os outros à sua sombra. Ao adaptar a obra de Collins para a telona, Ross foi fiel à idéia da autora, estabelecendo eficientemente a dualidade entre o que é real e o que é produzido pela mídia, portanto mesmo que alguns personagens se mantenham durante todo o tempo num determinado tom caricato, eles conseguem fazer sentido para a trama, sendo vistos como delírios do entretenimento marcados pela grandiloqüência, ilustrada pelo universo psicodélico onde estão inseridos Crane, Flickerman e Effie. Na contramão vem o lado sóbrio e realista dos jogadores, a maioria de origem muito pobre, maquiado por um tipo de imagem que o programa quer passar deles. Tal qual em Pleasantville, que narrava as tramas de um seriado de TV dos anos cinquenta, onde os protagonistas eram inseridos num ambiente com o American way of life latente, nos Jogos Vorazes a preocupação com a reputação do canal e de seus castos envolvidos é de suma importância.
Gabaritando-se para se tornar estrela, Jennifer Lawrence — outro dos principais acertos do longa, constrói Katniss como um misto de fragilidade, bem característica da idade, e ousadia que em certos pontos lembra a Ree Dolly, interpretada por Lawrence em Inverno da Alma. Entendendo as regras do jogo e o que este objetiva, ela consegue promover uma interessante reviravolta, dando espaços a mudanças de nuances que atenuam seu talento dramático.
Tendo uma trilogia praticamente garantida, a obra de Suzanne Colins é uma consistente fonte de exploração, também estruturada por temas complexos que podem gerar reflexões pertinentes, como da luta pela auto-preservação, a limítrofe fronteira entre o certo e o errado e a dominação do aparentemente mais forte sobre o mais fraco.
Numa época onde se investe pouco em produções que entretenham, mas que de igual modo tenham um caráter persuasivo consistente, Jogos Vorazes merece ter vida longa e próspera. Sem dúvida é cinema dos bons!
Eu assisti a este filme ontem. Não conheço a história dos livros e gostei bastante da história, da discussão que ela se propõe a fazer, mas achei aquela reviravolta do romance MUITO forçada... MUITO mesmo... No mais, acho que “Jogos Vorazes” tem tudo para confirmar aquilo que “Inverno da Alma” previu: Jennifer Lawrence será uma estrela.
Seu modo de escrever é muito elegante, parabéns! Gosto de ler suas críticas...
Estou visando seu blog
Gostei do seu blog rola uma parceria além de resenhas posto notícias, mas achoque tem haver e fiz uma crítica deste filme inclusive http://lefranconews.blogspot.com.br/